Autoconhecimento

A culpa não é sua pela sua intensidade

Não faz muito tempo que me envolvi com uma pessoa e em uma discussão muito prematura ele soltou “você é muito intensa”. Confesso que fiquei me corroendo por dentro com essas palavras. Pensei em digitar um textão para comprovar que a minha intensidade era culpa do meu signo e não necessariamente minha. Feriu o meu ego, confesso. “Como esse carinha tem a ousadia de falar que eu sou intensa demais?” pensei. E só eu sei o quanto eu me senti insuficiente e queria mudar esse meu jeito. 

Queria ser uma outra pessoa só para satisfazê-lo, ser alguém que fosse ideal para ele, não só por esse carinha, mas pela maioria de pessoas que eu conheci na minha vida que sempre enxergaram minha intensidade como um exagero.  Eu até tentei ser menos intensa, demorar mais a responder, recusar alguns rolês, ser menos atenciosa nas conversas, perguntar menos sobre a vida do outro, mas logo desisti. Primeiro porque eu não consegui mesmo, mas segundo porque nem faria sentido me tornar outra pessoa só para agradar aos outros.

Eu não estava errada em me entregar para alguém que me fazia bem.

Acho que a intensidade e o afeto caminham lado a lado. A minha intensidade vai muito pelo afeto, eu gosto disso, quero estar presente e aproveitar cada minuto ao lado de quem gosto, então não vejo mal em ser presente na vida da pessoa. Quero sim saber como ela está, quero conhecer cada traço do corpo e cada linha sobre a vida dela, conversar sem ter hora para responder, poder dizer o que sinto ou penso, criar momentos únicos e inesquecíveis.

Acho a intensidade bonita e não só porque eu sou intensa, mas porque ela mostra que você se preocupa, que você tem interesse em um mundo tão desinteressado, que o outro é importante na sua vida. E hoje em dia é tão difícil encontrar alguém que se importe verdadeiramente. É tão difícil alguém que queira se aprofundar um pouco mais, sair de apenas uma noite e nada mais, deixar de lado a palavra “contatinho” para poder conhecer uma pessoa que possa ser o seu par e somar.

As pessoas andam muito singulares e eu gosto do plural.

Eu gosto de soma, de multiplicação, sabe? Sempre achei a divisão muito complexa. Apesar de não ser de exatas e sim de humanas, o que talvez já justifique um pouco o meu gosto pelo afeto, eu fico em paz quando a conta fecha certinho, sabe? Quando acrescenta é que faz a diferença para mim e não vejo como acrescentar sem mergulhar no outro, sem se entregar e permitir que o outro entre, sem ser disponível e presente.

A intensidade assusta, sim, principalmente quando você encontra alguém que não aprendeu a ser amado, cuidado e a receber carinho. Também acho que uma pessoa intensa pode causar espanto, mas isso acontece porque as pessoas ainda não aprenderam que a vulnerabilidade não é um problema. Não há mal algum em ser interessante e interessado, não há mal algum em mostrar suas imperfeições, suas intenções, seus sentimentos e seus medos, pelo contrário: é muito corajoso. E, bom, você sabe, para amar é preciso coragem. E um pouco da minha intensidade é essa vontade louca de amar e ser amada. Ser plural em um mundo que anda tão individualista.

Texto escrito por mim em 2020.

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